Na culinária – aprendi com Edu Guedes -, um dos principais segredos é a medida. Um ingrediente em excesso pode estragar uma receita, assim como uma dose menor de fermento não será o suficiente para a massa.
Completando dez anos no ar, o “Hoje em Dia” reencontrou a medida certa e voltou a oferecer a dosagem exata entre jornalismo ágil e entretenimento de qualidade.
Com a direção segura de Vildomar Batista – um dos “pais” do programa e que retornou à direção do mesmo no início deste ano -, a atração consegue a proeza de divertir enquanto informa e informa enquanto diverte, cumprindo ambas as funções com maestria.
A “dosagem certa” aparece em cada detalhe, a começar pelo “Café com Notícias”, quadro que abre o programa e que reúne convidados à mesa enquanto as principais notícias do dia são debatidas e comentadas. A premissa é simplória, mas a execução perfeita a torna sublime.
O “Café” possui pautas muito bem selecionadas, dando a impressão de que roteiristas, produtores e repórteres entregam o material “no ponto”, cabendo ao trio de apresentadores apenas a tarefa de fazê-los render diante das câmeras, o que sempre conseguem.
Os apresentadores, aliás, continuam sendo um dos pilares do programa. A simplicidade de Chris, Celso e Edu cativam e, principalmente, incluem o telespectador. Pode até ser mentira (o universo da TV é cheio delas), mas a harmonia entre eles parece ser de verdade e o ar puro oxigena o vídeo.
Chris Flores possui uma imagem limpa e dialoga muito bem com telespectadores e convidados, transpirando leveza mesmo quando aborda pautas densas.
Celso Zucatelli, por sua vez, parece ter encontrado o tom ideal entre a formalidade e a descontração, exercendo – talvez inconscientemente – a função de “cabeça” do trio, sem com isso parecer mandão, autoritário ou simplesmente chato.
Num programa em que todos têm uma função, até mesmo o cãozinho Paçoca se torna imprescindível e parece ser a “parábola viva” da simpatia e carinho que permeiam o programa.
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O “Hoje em Dia” demonstra verdadeiramente se importar com o mundo ao seu redor e o resultado é um programa que ultrapassa as fronteiras da TV.
O mais clássico exemplo desta política é o tocante caso da pequenina Sofia, abraçada pela atração. Toda a cobertura do drama do bebê que necessita de um complexo transplante de órgãos foi tratado com seriedade, transparência e, principalmente, amor. O final feliz foi coroado com uma visita de Chris ao hospital, numa reportagem que “humanizou” Sofia, tirando-a da impessoalidade das redes sociais, e brindou os telespectadores com momentos de pura emoção.
Quadros e realities bem idealizados como o “Quero Ser Mãe”, “Você e o Doutor” e “Segredos da Receita” também turbinam a atração, que possui a virtude de dosar (olha o verbo-chave aí de novo!) a quantidade ideal de matérias externas e a duração de pautas no estúdio.
Curiosamente, o tempo é justamente o maior inimigo do programa, que luta para condensar seu conteúdo em duas horas, descontando-se daí cinco longos breaks. O “Hoje em Dia” atual merecia a duração do de antigamente!
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A atração é, enfim, um bálsamo para as manhãs rígidas e maçantes das concorrência. É descontraída sem deixar de ser séria, agradável sem deixar de ser informativa e leve sem deixar de ser corajosa.
Em suma, o “Hoje em Dia” parece ser a prova de que o que é verdadeiro não pode ser produzido somente com a mente, mas também com o coração!